terça-feira, 4 de novembro de 2008

sábado, 25 de outubro de 2008

Quebrador de pedras

Era uma vez um simples quebrador de pedras que estava insatisfeito consigo mesmo e com sua posição na vida. Um dia ele passou em frente a uma rica casa de um comerciante. Através do portal aberto, ele viu muitos objetos valiosos e luxuosos e importantes figuras que freqüentavam a mansão."Quão poderoso é este mercador!" pensou o quebrador de pedras. Ele ficou muito invejoso disso e desejou que ele pudesse ser como o comerciante. Para sua grande surpresa ele repentinamente tornou-se o comerciante, usufruindo mais luxos e poder do que ele jamais tinha imaginado, embora fosse invejado e detestado por todos aqueles menos poderosos e ricos do que ele.Um dia um alto oficial do governo passou à sua frente na rua, carregado em uma liteira de seda, acompanhado por submissos atendentes e escoltado por soldados, que batiam gongos para afastar a plebe. Todos, não importa quão ricos, tinham que se curvar à sua passagem."Quão poderoso é este oficial!" ele pensou. "Gostaria de poder ser um alto oficial!" Então ele tornou-se o alto oficial, carregado em sua liteira de seda para qualquer lugar que fosse, temido e odiado pelas pessoas à sua volta. Era um dia de verão quente, e o oficial sentiu-se muito desconfortável na suada liteira de seda. Ele olhou para o Sol. Este fulgia orgulhoso no céu, indiferente pela sua reles presença abaixo."Quão poderoso é o Sol!" ele pensou. "Gostaria de ser o Sol!" Então ele tornou-se o Sol. Brilhando ferozmente, lançando seus raios para a terra sobre tudo e todos, crestando os campos, amaldiçoado pelos fazendeiros e trabalhadores. Mas um dia uma gigantesca nuvem negra ficou entre ele e a terra, e seu calor não mais pôde alcançar o chão e tudo sobre ele."Quão poderosa é a nuvem de tempestade!" ele pensou "Gostaria de ser uma nuvem!" Então ele tornou-se a nuvem, inundando com chuva campos e vilas, causando temor a todos. Mas repentinamente ele percebeu que estava sendo empurrado para longe com uma força descomunal, e soube que era o vento que fazia isso."Quão poderoso é o Vento!" ele pensou. "Gostaria de ser o vento!" Então ele tornou-se o vento de furacão, soprando as telhas dos telhados das casas, desenraizando árvores, temido e odiado por todas as criaturas na terra. Mas em determinado momento ele encontrou algo que ele não foi capaz de mover nem um milímetro, não importasse o quanto ele soprasse em sua volta, lançando-lhe rajadas de ar. Ele viu que o objeto era uma grande e alta rocha."Quão poderosa é a rocha!" ele pensou. "Gostaria de ser uma rocha!" Então ele tornou-se a rocha. Mais poderoso do que qualquer outra coisa na terra, eterno, inamovível. Mas enquanto ele estava lá, orgulhoso pela sua força, ele ouviu o som de um martelo batendo em um cinzel sobre uma dura superfície, e sentiu a si mesmo sendo despedaçado."O que poderia ser mais poderoso do que uma rocha?!?" pensou surpreso. Ele olhou para baixo de si e viu a figura de um quebrador de pedras.

terça-feira, 14 de outubro de 2008

O que o dicionário diz que é normal.

do Lat. normale adj. 2 gén.,
conforme à norma ou à regra comum;
que serve de regra, de modelo;
exemplar;
habitual;
ordinário;s. f.,
linha perpendicular à tangente ou ao plano tangente, no ponto de contacto;
recta perpendicular a um plano.

sábado, 11 de outubro de 2008

Entre dois mundos

Um feito de sonhos
Outro pura realidade

Um barulhento e caótico
Outro com o mais belo som

Um escuro, porém muito colorido
Outro, pura luz

Um com atores, estórias
Outro com todos os teatros

Um em eterna mutação
Outro eternamente imutável.

Quando um se depara com outro, um espelho, dizem a sí mesmos.

- Você não vale nada !!

Em segredo são grandes amigos.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Como o Mal Gera o Mal

Um eremita caminhava por um lugar deserto quando chegou a uma gruta enorme cuja entrada não era facilmente visível. Decidiu descansar e entrou. Logo notou o brilhante reflexo da luz sobre um monte de ouro.
Assim que se deu conta do que tinha visto, o eremita começou a correr, fugindo o mais depressa que pode.
Acontece que havia três ladrões que passavam muito tempo naquele ponto do deserto com a intenção de roubar viajantes. Logo o homem piedoso passou por eles. Os ladrões se surpreenderam, alarmaram-se até, vendo o homem correndo sem que ninguém o perseguisse. Saíram de seu esconderijo e detiveram-no, perguntando-lhe o que estava acontecendo.
- Estou fugindo do diabo, irmãos - disse. - Ele está me perseguindo.
Os bandidos não conseguiram ver ninguém perseguindo o devoto.
- Mostra-nos quem está atrás de ti - disseram.
- Eu o farei - falou o eremita, com medo deles.
Levou-os em direção à gruta, rogando-lhes que não se aproximassem dela. A essa altura, naturalmente, os ladrões estavam muito curiosos com a advertência e insistiram em ver o motivo de tanto alarme.
- Aqui está a morte que me perseguia - disse o ermitão.
Os malfeitores, é claro, ficaram encantados. Evidentemente consideraram o eremita meio louco e o deixaram ir, enquanto se felicitavam por sua boa sorte.
Em seguida começaram a discutir sobre o que deveriam fazer com sua presa, pois tinham receio de deixar o tesouro novamente só. Decidiram por fim que um deles apanharia um pouco do ouro, iria à cidade, onde trocaria por comida e outras coisas necessárias, e depois procederiam à divisão.
Um dos ladrões se apresentou voluntariamente para realizar a missão. Pensou consigo mesmo:
" Quando chegar à cidade poderei comer tudo o que quiser. Depois envenenarei o resto da comida. Assim os outros dois morrerão, e o tesouro será só meu ".
Na sua ausência, porém, os outros dois também tinham estado pensando.
Tinham decidido que, mal o espertalhão regressasse, o matariam. Depois comeriam sua comida e dividiriam o tesouro em duas partes, em vez de três.
No momento em que o pilantra chegou à gruta com as provisões, os outros dois caíram sobre ele e, a punhaladas, o mataram. A seguir comeram toda a comida, e morreram por causa do veneno que seu companheiro havia posto nela.
Dessa maneira, como o eremita predissera, o ouro realmente tinha significado a morte para os que tinham deixado se influenciar por ele, e o tesouro permaneceu onde estava, na gruta, por muito tempo.
Extraído de'Histórias da Tradição Sufi'Edições Dervish 1993

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Verdade e mentira

Em dada ocasião, um rei chamou Nasrudin para se consolar:- Ah, Mullá, estou triste. Meu povo anda mentindo demais, não sei mais o que fazer. O que posso fazer quando o povo me falta com a verdade.- Acontece, rei - respondeu Nasrudin - que nem sempre é fácil diferenciar a verdade da mentira.- Mas é claro que é, Mullá - retrucou o rei - a verdade impele ao bem, enquanto a mentira só visa enganar...- Essa é a teoria, mas é preciso que todos saibam na prática o que é mentira e o que é verdade...Assim Nasrudin combinou com o rei e com o carrasco da corte que na manhã seguinte todos os cidadãos iriam ser levados para fora dos muros da cidade e antes de entrarem o carrasco deveria perguntar o que queriam fazer na cidade, os que mentissem, seriam enforcados em praça pública.E assim foi. Na manhã seguinte estavam todos os cidadãos em frente ao portal da cidade e o capataz falou:- Todos os que desejam entrar na cidade devem me dizer o motivo, aqueles que mentirem serão enforcados.- Eu serei o primeiro - disse Nasrudin, e se encaminhou na direção do carrasco.- Por que quer entrar na cidade? - perguntou.- Eu estou indo ser enforcado naquela forca - e apontou para a praça.- Isso é uma mentira, Mullá!!! - disse o carrasco.- Se estou mentindo, então me enforque, oras!

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

A Serpente e o Homem Sábio
Nos arredores de uma pequena aldeia na India, vivia uma serpente negra. Sua picada não era fatal, mas deixava um homem doente por várias semanas. E muitos da aldeia já tinham sido mordidos. A serpente era rápida e maligna. Ela atormentava a aldeia.
Aconteceu numa primavera, de um homem sábio que fazia sua peregrinação anual, passar pela aldeia. Seus habitantes, adultos e crianças apressaram-se em correr e aglomerar-se ao seu redor para pedir suas bençãos. Um camponês, ao contrário, postou-se fora da multidão, e aguardou até que o sábio colocasse sua mão na última cabeça, e foi então que se aproximou e disse:
- Venerável sábio, eu não venho pedir uma benção para mim apenas, mas para toda a aldeia. Se você puder nos livrar da serpente que nos atormenta , então seremos verdadeiramente abençoados, não só em palavras mas em ação.
O homem sábio pediu então que o conduzissem ao local onde havia um buraco no qual a serpente vivia. Ao se aproximar, o homem sábio viu a serpente toda enrolada em espiral, deitada próxima ao buraco. O sol iluminando seu corpo macio e gordo, fazia brilhar faixas verdes e amarelas que compunham seu couro negro.
- "Serpente" – murmurou o homem sábio. Eu vim conversar com você. A serpente ergueu sua cabeça e encarou o homem sábio com seus olhos vidrados.
- "Serpente" – sussurrou o homem. "Você tem que se desviar desse mau caminho por onde você tem deslizado". " A vida é curta. Quem saberá quantas outras tantas vidas você terá que viver para reparar esta?"
E começou a acariciar suavemente as costas da serpente. A serpente abaixou a cabeça e fechou seus olhos. E o homem sábio continuou a falar baixinho:
- "Serpente, você deve trilhar um caminho de paz, viver em harmonia com todos os seres vivos"
Nessa hora a serpente silvou longa e nefastamente. Mas o homem sábio persistiu, sussurrando e acariciando suas costas. Devagarinho a serpente foi se desenrolando. E começou a se balançar suavemente como que acompanhando o ritmo dos sons suaves do homem sábio. Ele por sua vez escolhia cuidadosamente suas palavras, até cativar totalmente a serpente. Anoiteceu e o sábio ainda estava ali a falar e a acariciar a serpente mansamente. Finalmente ele disse:
- "Serpente, eu preciso ir agora. Mas vamos fazer um pacto. Por um ano inteiro você não fará mal aos habitantes da aldeia. Ao findar um ano eu voltarei e conversaremos novamente"
A serpente concordou e aceitou a promessa. Um ano se passou e novamente o homem sábio parou na frente do buraco da serpente e chamou:
- "Serpente, serpente, eu estou aqui". O homem sábio esperou por algum tempo até que viu a serpente sair com muito esforço e devagarinho.Ele viu também muita dor e sofrimento. Seu corpo antes macio e lustroso, agora definhava, opaco e magro. Sua pele estava coberta com enormes cicatrizes e feridas algumas ainda em chagas.
- "Serpente, querida serpente".Gritou e chorou o homem sábio. "Quem fez isso com você?"
Falando baixo mas sem amargura, a serpente contou sua história. Quando os camponeses souberam da sua transformação, eles começaram por sua vez a atormentá-la. De longe, primeiro atiravam pedras e paus. Depois, vendo que ela não reagia, chegaram mais perto então.
- "Eu cumpri minha promessa" – disse a serpente. "E o resultado é que não posso mais dormir ao sol sem ser beliscada, pisoteada ou chutada. Eu errei em ouví-lo. Você é o responsável pelo meu sofrimento"O homem sábio acariciou suavemente a fina pele da serpente.
- "Ah pobre serpente, eu sou realmente culpado. Seu tormento é inteiramente minha falha, pois eu não soube me expressar adequadamente. Eu pedi que você parasse de atacar os camponeses, mas não que parasse de silvar para eles"
Tradução livre a partir de "Stories from an Eastern Coffee House"